À vista dos Leões
Uma palmeira trópico-psicadélica
Indicou-me o caminho do plano B
Caio nesses olhos apáticos, Caio nesse hipnótico abraço, Desta viagem entre flores plásticas, E coloridas manhãs de aço ...
segunda-feira, outubro 08, 2007
terça-feira, junho 26, 2007
terça-feira, junho 12, 2007
Ai meu Santo António
Meu Santo Antoninho
Que anda meio mundo a foder o outro
E o fodido é sempre o povinho
Heloisa Nau
Que anda meio mundo a foder o outro
E o fodido é sempre o povinho
Heloisa Nau
quinta-feira, abril 19, 2007
1972
Não me lembro, mas devem-me ter fechado nesta sala, literalmente forrada a alcatifa dos anos 70, há algumas horas.
Fixo a alcatifa do tecto e penso que se existir um paraíso para os ácaros deverá ser parecido com isto.
Duas luzes piscam de forma psicadélica e aleatória - os arrancadores à vida.
Lá fora, inesperadamente trojeva. Olho a vidraça, encoberta quase na sua totalidade por um estore de época, constituído por rectangulos de um amarelo encardido orientados verticalmente.
O reflexo das lâmpadas psicadélicas reflecte-se no vidro a todo o momento e simultaneamente ouvem-se os trovões muito próximos, sem dar para perceber se uma coisa está relacionada com a outra, se o reflexo vem de dentro ou de fora, dos céus.
Encontro-me a trabalhar numa mesa de reuniões gigantesca em forma de urna achatada.
Do lado oposto à janela exterior, existem mais duas janelas com cortinas de um amarelo papiro. As janelas encontram-se entabuadas por falta de utilidade, com certeza, em tempos serviriam para o patrão controlar a fábrica.
Das paredes pendem fios eléctricos da cor das cortinas e as paredes estão decoradas com fotografias da fábrica que contam a história da sua evolução, desde aquela que mostra a sua não existência, a preto e branco, onde se pode ver uma espécie de feira com juntas de bois e agricultores, até à mais moderna de 1993 recortada por uma estonteante moldura dourada.
Cheira intensamente a alcatifa suja e aspirada vezes sem fim, como descrever este cheiro de repartição de finanças, denso, sufocantemente burocrático?
De trás da janela entaipada vem o constante matraquear das prensas de estapagem, qual locomotiva a vapor eternamente imobilizada num movimento circular que nunca chega ao próximo apeadeiro.
Desisto de esperar, rasgo o bilhete de primeira e saio pela porta da estação.
Fixo a alcatifa do tecto e penso que se existir um paraíso para os ácaros deverá ser parecido com isto.
Duas luzes piscam de forma psicadélica e aleatória - os arrancadores à vida.
Lá fora, inesperadamente trojeva. Olho a vidraça, encoberta quase na sua totalidade por um estore de época, constituído por rectangulos de um amarelo encardido orientados verticalmente.
O reflexo das lâmpadas psicadélicas reflecte-se no vidro a todo o momento e simultaneamente ouvem-se os trovões muito próximos, sem dar para perceber se uma coisa está relacionada com a outra, se o reflexo vem de dentro ou de fora, dos céus.
Encontro-me a trabalhar numa mesa de reuniões gigantesca em forma de urna achatada.
Do lado oposto à janela exterior, existem mais duas janelas com cortinas de um amarelo papiro. As janelas encontram-se entabuadas por falta de utilidade, com certeza, em tempos serviriam para o patrão controlar a fábrica.
Das paredes pendem fios eléctricos da cor das cortinas e as paredes estão decoradas com fotografias da fábrica que contam a história da sua evolução, desde aquela que mostra a sua não existência, a preto e branco, onde se pode ver uma espécie de feira com juntas de bois e agricultores, até à mais moderna de 1993 recortada por uma estonteante moldura dourada.
Cheira intensamente a alcatifa suja e aspirada vezes sem fim, como descrever este cheiro de repartição de finanças, denso, sufocantemente burocrático?
De trás da janela entaipada vem o constante matraquear das prensas de estapagem, qual locomotiva a vapor eternamente imobilizada num movimento circular que nunca chega ao próximo apeadeiro.
Desisto de esperar, rasgo o bilhete de primeira e saio pela porta da estação.
quarta-feira, abril 18, 2007
Sul
O Tejo segue sereno, ao longo dos esteiros e dos apeadeiros abandonados da velha linha.
Para lá começa outro mundo, a imensa superfície verdejante e ondulante do além Tejo.
O Sul faz real sentido aqui.
Só se viaja verdadeiramente para Sul.
O comboio segue para Norte, indiferente às minhas divagações, demorando as três imutáveis horas de há 40 anos, como se as duas cidades teimassem em não se aproximar.
Quando o tempo deixar de fazer parte da viagem, deixaremos de viajar.
O desencantamento provém da facilidade.
Para lá começa outro mundo, a imensa superfície verdejante e ondulante do além Tejo.
O Sul faz real sentido aqui.
Só se viaja verdadeiramente para Sul.
O comboio segue para Norte, indiferente às minhas divagações, demorando as três imutáveis horas de há 40 anos, como se as duas cidades teimassem em não se aproximar.
Quando o tempo deixar de fazer parte da viagem, deixaremos de viajar.
O desencantamento provém da facilidade.
segunda-feira, abril 16, 2007
quarta-feira, março 07, 2007
Vocação
A falta ou desconhecimento de vocação é a minha maior angústia.
O início da "Tabacaria" do Pessoa (fica sempre bem tratar os poetas apenas pelo apelido, como se tivessemos acabado de estar em amena cavaqueira com eles numa das célebres tertúlias da brasileira) retrata bem o que eu sinto:
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Faz anos que penso nisto e nunca chego a conclusão nenhuma, ou chego sempre a uma conclusão diferente, o que é pior.
Quando mo perguntam costumo responder maquinalmente que "Gostaria de ser líder de uma banda de rock", que é a coisa mais absurdamente sincera que eu consigo responder.
O início da "Tabacaria" do Pessoa (fica sempre bem tratar os poetas apenas pelo apelido, como se tivessemos acabado de estar em amena cavaqueira com eles numa das célebres tertúlias da brasileira) retrata bem o que eu sinto:
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Faz anos que penso nisto e nunca chego a conclusão nenhuma, ou chego sempre a uma conclusão diferente, o que é pior.
Quando mo perguntam costumo responder maquinalmente que "Gostaria de ser líder de uma banda de rock", que é a coisa mais absurdamente sincera que eu consigo responder.
segunda-feira, março 05, 2007
Deolinda
A Deolinda para mim era a Linda.
Recordo as suas mãos grossas retorcidas pelo trabalho, desproporcionadas naquele corpo franzino e corcunda, que pegavam em mim com tanta firmeza.
Amarrava com baraços as portas dos armários das panelas e sorria docemente com uma paciência infinita.
Levava-me com ela sempre que ía lavar a roupa perto do moinho do cubo.
Há trinta anos já era velha, sempre a conheci velha, mas com uma força inesgotável.
Agora com 93 o tempo já lhe tirou a genica. Os seus olhos afundados nas rugas marejaram de lágrimas mal me viu e não mais me largou a mão até nos separamos.
Recordo as suas mãos grossas retorcidas pelo trabalho, desproporcionadas naquele corpo franzino e corcunda, que pegavam em mim com tanta firmeza.
Amarrava com baraços as portas dos armários das panelas e sorria docemente com uma paciência infinita.
Levava-me com ela sempre que ía lavar a roupa perto do moinho do cubo.
Há trinta anos já era velha, sempre a conheci velha, mas com uma força inesgotável.
Agora com 93 o tempo já lhe tirou a genica. Os seus olhos afundados nas rugas marejaram de lágrimas mal me viu e não mais me largou a mão até nos separamos.
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
A vida dos outros
Este filme é do melhorzinho que vi ultimamente. O realizador é um puto Alemão de 33 anos chamado Florian Henckel Donnersmarck e ganhou o Óscar para o melhor filme estrangeiro.
Vale a pena ver nem que seja numa perspectiva de documentário histórico.
Os métodos e a lógica da Stasi, mítica polícia política da antiga RDA, são muito bem retratados, assim como o cinísmo e a decadência dos valores subjacentes ao aparelho.
A personagem Gerd Wiesler, o fiel agente do sistema à volta do qual gira todo o filme é absolutamente desconcertante e maravilhosamente bela, humana, apaixonante...
PS: Florian, estás fodidinho para o 2ºfilme...
Acordar com o galo
A minha nova morada está impregnada de ruralidade, substância de que a minha memória melancólica e saudosista se alimenta, recordando os tempos em que subia a rua 5 de Outubro a desviar-me das bostas fumegantes das vacas.
Para começar moro num largo, não numa praça urbana com esquadria de arquitecto definida, mas num largo, o largo da Ramada Alta, onde em tempos deveriam ter existido belos vinhedos.
No largo existe uma pequena igreja de aldeia com campanário, que parece ter sido télé-trasportada de outras latitudes, tal a inverosimilhança com o que a rodeia, e por fim acordo todos os dias com o cantar do galo a sobrepor-se ao ronco dos motores dos carros.
Descobri há dias onde moram esses galos, parece que em tempos um excêntrico professor da Escola Carolina Michaelis decidiu fazer uma criação de garnizés nos jardins da escola, construindo um lago e abrigos para os bichos e desde então a criação não para de crescer.
Uma velhota que passava por acaso disse-me que os bichos sobreviviam da bondade de algumas pessoas que todos os dias atiravam comida por entre as grades da escola.
Para começar moro num largo, não numa praça urbana com esquadria de arquitecto definida, mas num largo, o largo da Ramada Alta, onde em tempos deveriam ter existido belos vinhedos.
No largo existe uma pequena igreja de aldeia com campanário, que parece ter sido télé-trasportada de outras latitudes, tal a inverosimilhança com o que a rodeia, e por fim acordo todos os dias com o cantar do galo a sobrepor-se ao ronco dos motores dos carros.
Descobri há dias onde moram esses galos, parece que em tempos um excêntrico professor da Escola Carolina Michaelis decidiu fazer uma criação de garnizés nos jardins da escola, construindo um lago e abrigos para os bichos e desde então a criação não para de crescer.
Uma velhota que passava por acaso disse-me que os bichos sobreviviam da bondade de algumas pessoas que todos os dias atiravam comida por entre as grades da escola.
terça-feira, fevereiro 27, 2007
Eu quero uma urgência só para mim
Esta coisa de meia dúzia de maluquinhos virem para o meio da rua reivindicar o não encerramento de uma urgência médica é típico do espírito paroquial do nosso Portugalzinho, mas simultaneamente percebe-se que um povo abandonado e tragicamente condenado à codêa e ao frio e sem perspectivas de futuro se revolte quando aparentemente lhe querem agora tirar a saudinha…
Do que se trata é de implementar um novo paradigma para a rede nacional de urgências: Acabar com uma rede gigante de urgências e SAPs mal equipados, com poucos médicos, muitas vezes mal preparados, que atendem meia dúzia de gatos-pingados por dia e concentrar os recursos e os equipamentos em menos locais, com equipas multi-disciplinares, que acumulem a experiência de atender centenas de doentes por dia e como tal prestem um melhor serviço às populações.Este novo sistema pressupõe também que se reforce a rede de médicos de família e os cuidados de ambulatório que resolvem a maior parte das chamadas “urgências”…
Ora, se submetêssemos ao crivo dos rígidos princípios morais dos nossos autarcas e ao douto juízo das nossas tristes gentes esta decisão obviamente que a solução seria criar uma urgência em cada freguesia, porque aqui cada um só olha para o seu quintalzinho, e isto de perder direitos adquiridos dói mais que o reumático…
Do que se trata é de implementar um novo paradigma para a rede nacional de urgências: Acabar com uma rede gigante de urgências e SAPs mal equipados, com poucos médicos, muitas vezes mal preparados, que atendem meia dúzia de gatos-pingados por dia e concentrar os recursos e os equipamentos em menos locais, com equipas multi-disciplinares, que acumulem a experiência de atender centenas de doentes por dia e como tal prestem um melhor serviço às populações.Este novo sistema pressupõe também que se reforce a rede de médicos de família e os cuidados de ambulatório que resolvem a maior parte das chamadas “urgências”…
Ora, se submetêssemos ao crivo dos rígidos princípios morais dos nossos autarcas e ao douto juízo das nossas tristes gentes esta decisão obviamente que a solução seria criar uma urgência em cada freguesia, porque aqui cada um só olha para o seu quintalzinho, e isto de perder direitos adquiridos dói mais que o reumático…
quarta-feira, fevereiro 21, 2007
Estratégia de mudança de casa
Toda a gente sabe o pesadelo que é fazer uma mudança de casa, especialmente para alguém como eu, com um obsessivo apego às coisas mais inúteis que guardo na ilusão de um dia me servirem para algum propósito obscuro(sabe-se lá qual...).
Antecipando a carga de trabalhos que se avizinhava, tratei de engendrar uma estratégia para me livrar, pelo menos das tarefas mais pesadas.
Depois de muito matutar eis que se fez luz na minha cabeça: Nada como arranjar um problemazinho de saúde súbito. Mas qual?
Pensei numa doença tropical esquisita com um período de incubação de 2 anos, uma gripe das aves trazida por alguma gaivota desorientada do Norte da Europa, mas nenhum destes planos era de fácil concretização. Finalmente lembrei-me de algo mais simples: Porque não recorrer à estranha capacidade que eu tenho de deslocar o braço do ombro e voltar colocá-lo no sítio?
Foi o que fiz, coloquei o braço atrás das costas, rodei o tronco para o lado contrário e fiquei com o ombro direito um palmo abaixo do normal e com umas dores indescritíveis. Depois bastou-me começar ao berros a pedir ajuda, que veio pronta e puxar novamente o braço para o colocar novamente no seu sítio.
Ainda tenho para umas semanas...
Antecipando a carga de trabalhos que se avizinhava, tratei de engendrar uma estratégia para me livrar, pelo menos das tarefas mais pesadas.
Depois de muito matutar eis que se fez luz na minha cabeça: Nada como arranjar um problemazinho de saúde súbito. Mas qual?
Pensei numa doença tropical esquisita com um período de incubação de 2 anos, uma gripe das aves trazida por alguma gaivota desorientada do Norte da Europa, mas nenhum destes planos era de fácil concretização. Finalmente lembrei-me de algo mais simples: Porque não recorrer à estranha capacidade que eu tenho de deslocar o braço do ombro e voltar colocá-lo no sítio?
Foi o que fiz, coloquei o braço atrás das costas, rodei o tronco para o lado contrário e fiquei com o ombro direito um palmo abaixo do normal e com umas dores indescritíveis. Depois bastou-me começar ao berros a pedir ajuda, que veio pronta e puxar novamente o braço para o colocar novamente no seu sítio.
Ainda tenho para umas semanas...
quarta-feira, janeiro 31, 2007
Scoop
Como eu suspeitava o último filme do Woody Allen não é nada de extraordinário. Tem uma piadas e uns gadgets bem metidos, o talento e atributos da Scarlett e pouco mais.
Mas ao meu amigo Allen eu perdoo tudo, até o pôr-se na filha adoptiva...
O homem faz um filme por ano porque precisa de pagar as contas da luz e da água e o colégio da Soon Lee e como ele diz se não soubesse fazer umas piadas fixes provavelmente já teria morrido de forme.
Para além disso as obras primas são raras e necessitam de uma combinação mágica de factores que nem sempre é possivel...
Mas ao meu amigo Allen eu perdoo tudo, até o pôr-se na filha adoptiva...
O homem faz um filme por ano porque precisa de pagar as contas da luz e da água e o colégio da Soon Lee e como ele diz se não soubesse fazer umas piadas fixes provavelmente já teria morrido de forme.
Para além disso as obras primas são raras e necessitam de uma combinação mágica de factores que nem sempre é possivel...
segunda-feira, janeiro 29, 2007
quinta-feira, janeiro 18, 2007
sexta-feira, janeiro 12, 2007
Novas coisas velhas
Impulso frenético,
novas coisas novas.
Passividade frívola,
novas coisas novas.
O novo 3d, o novo lcd, o novo ipod,
não se lê,
não se vê,
Não se fode.
Coisas velhas,
que nunca chegam a envelhecer
Novas coisas velhas
que se deixam morrer
Velhas coisas novas,
requentadas,
esticadas,
Para agradar às modas.
novas coisas novas.
Passividade frívola,
novas coisas novas.
O novo 3d, o novo lcd, o novo ipod,
não se lê,
não se vê,
Não se fode.
Coisas velhas,
que nunca chegam a envelhecer
Novas coisas velhas
que se deixam morrer
Velhas coisas novas,
requentadas,
esticadas,
Para agradar às modas.
terça-feira, janeiro 09, 2007
No direction home
Este documentário do Martin Scorcese sobre Bob Dylan está genial.
Já algumas pessoas, que não apreciavam particularmente o Bob, se converteram em admiradores desta incontornável figura.
(Acho que alguém disse um dia:"Em algum momento da sua vida, toda a gente gosta de Bob Dylan")
O documentário mistura imagens de arquivo com entrevistas recentes do bob e de outras personagens que se foram cruzando com ele.
Uma viagem turtuosa desde as raízes Folk e Country até ao Rock, sempre a abandonar os terrenos cómodos, sempre a fintar o destino e o óbvio, com muito humor e charme, sem a direcção de casa.
Já algumas pessoas, que não apreciavam particularmente o Bob, se converteram em admiradores desta incontornável figura.
(Acho que alguém disse um dia:"Em algum momento da sua vida, toda a gente gosta de Bob Dylan")
O documentário mistura imagens de arquivo com entrevistas recentes do bob e de outras personagens que se foram cruzando com ele.
Uma viagem turtuosa desde as raízes Folk e Country até ao Rock, sempre a abandonar os terrenos cómodos, sempre a fintar o destino e o óbvio, com muito humor e charme, sem a direcção de casa.
No fino da Bossa
Ando a ver se ganho amor à guitarra, e volto a tocar alguma coisita.
Pelo menos enquanto tento arranhar uns sons, não vejo televisão, o que é um grande progresso para mim.
Na net há toneladas de sites com músicas, acordes, tablaturas, o que ajuda imenso, mas ainda assim é preciso muita perseverança.
É claro que desatei logo a tentar tocar umas bossas, mas aquilo tem que se lhe diga. No outro dia ía deslocando dois dedos com aqueles acordes de sétima com quinta aumentada.
É perigoso e eu preciso dos dedinhos para trabalhar...
Pelo menos enquanto tento arranhar uns sons, não vejo televisão, o que é um grande progresso para mim.
Na net há toneladas de sites com músicas, acordes, tablaturas, o que ajuda imenso, mas ainda assim é preciso muita perseverança.
É claro que desatei logo a tentar tocar umas bossas, mas aquilo tem que se lhe diga. No outro dia ía deslocando dois dedos com aqueles acordes de sétima com quinta aumentada.
É perigoso e eu preciso dos dedinhos para trabalhar...
segunda-feira, janeiro 08, 2007
"As velhas"
1
recatai-vos velhas
recatai-vos velhas
fugi para a igreja
abanai o sino
fechai bem no quarto
o vosso netinho
o vosso menino
para que não veja
para que não saiba
para que não seja
assim como esses
que são cabeludos
que só têm barba
dizem palavrões
e dão encontrões
nas ruas da baixa
aos senhores sisudos
são uns parvalhões
recatai-vos velhas
trazei um polícia
uma esquadra inteira
ai tanta sujeira
imaginem só
andam-se a drogar
até metem dó
a cambalear
isto está perdido
ó velhas fugi
ide para ali
que aqui está fodido
recatai-vos velhas
tapai as orelhas
guardai o menino
fechai-o no quarto
metei-o na cama
para que não veja
para que não ouça
para que não seja
para que não tenha
para que não venha
perdeu-se o respeito
já não há moral
ó velhas fugi
olhem para ali
beijam-se na rua
fodem ao luar
antes de casar
já nem vão à tropa
só querem dinheiro
todo para estourar
já nem vão às putas
mostrar que são homens
ó senhor prior
já nem vão à missa
não têm missal
isto é um horror
vamos mesmo mal
fechai os olhos
não vejais o netinho
guardai-o no fundo
de um quarto comprido
para que não veja
para que não tenha
para que não seja
para que não venha
recatai-vos velhas
que já nem na praia
se consegue estar
ó virgem maria
ó senhor do céu
essas estrangeiras
deu-lhes para andar
de mamas ao léu
a tremelicar
ó velhas cuidado
assim é que não
inda a procissão
só vai no adro
não deixes que a merda
se ponha a medrar
gritai pelas ruas
falai prós jornais
morra a juventude
fine a desvergonha
chamemos quem ponha
estes animais
c'o a corda rente
ó velhas chamai
o presidente
2
libertai-vos velhas
vinde para o sol
dançar rock n' roll
ide até a lua
c'uma ganza fixe
esticai o dedo
apanhai boleia
fumai muito haxixe
ponde a casa cheia
dos nossos poetas
dos nossos malucos
andai de autocarro
a fugir ao pica
libertai-vos velhas
não pagueis a taxa
acabai com a graxa
aos vossos patrões
cagai no juízo
nas boas maneiras
cagai nas peneiras
ó velhas então?
vinde para aqui
para a confusão
ó velhas vesti
uma mini-saia
deixai que vos caia
esse ar tão mortiço
essa cara chocha
mostrai a coxa
gritai uma asneira
uma malandrice
pelos microfones
das rádios-pirata
ouvi os Police
os Rolling Stones
não vos afogueis
em mais água benta
bebei um bagaço
jogai a dinheiro
ide ao cangalheiro
adiai a morte
ide pelo mundo
por estradas à sorte
vinde para aqui
para o reviralho
e se não quiserdes
ide para o caralho!
Apocalipse, João Habitualmente
Causa/Efeito
O querer situar-se fora da série causal,
poderá significar quem sabe
(quiça para alguns),
querer,
(ainda que inconscientemente)
ser um grandessissimo filho-da-puta.
Heloisa Nau
poderá significar quem sabe
(quiça para alguns),
querer,
(ainda que inconscientemente)
ser um grandessissimo filho-da-puta.
Heloisa Nau
domingo, janeiro 07, 2007
sexta-feira, janeiro 05, 2007
A forca em directo v2
Ouvi hoje na rádio que uma criança Iraquiana se matou ao tentar imitar o enforcamento de Saddam após ter visto o video do falecido ditador.
É triste, mas mais triste é fazer disto uma notícia, quando há dezenas de Westerns com enforcamentos a torto e a direito, apesar de neste caso a criança poder ter sido levada a imitar aquele homem que costumava ver sorridente e confiante na televisão ou em cartazes pelas ruas de Bagdad.
O espectáculo macabro e humilhante da morte em directo de Saddam não serviu ninguém nem qualquer propósito ou princípio, para além deste trágico mimetismo.
Mas quando cai um ditador é difícil evitar estes exageros, basta ver de que forma acabou Chausesco...
Que todos os ditadores (incluíndo Bush) imitem o puto iraquiano, é o meu desejo para 2007...
É triste, mas mais triste é fazer disto uma notícia, quando há dezenas de Westerns com enforcamentos a torto e a direito, apesar de neste caso a criança poder ter sido levada a imitar aquele homem que costumava ver sorridente e confiante na televisão ou em cartazes pelas ruas de Bagdad.
O espectáculo macabro e humilhante da morte em directo de Saddam não serviu ninguém nem qualquer propósito ou princípio, para além deste trágico mimetismo.
Mas quando cai um ditador é difícil evitar estes exageros, basta ver de que forma acabou Chausesco...
Que todos os ditadores (incluíndo Bush) imitem o puto iraquiano, é o meu desejo para 2007...
terça-feira, janeiro 02, 2007
Pinguim
Na passagem de ano acabei por ir parar ao Pinguim, um barzito na rua de Belmonte que me traz boas recordações dos tempos da faculdade.
Era por lá que parávamos às segundas-feiras à noite, apresentados aos demónios verdes do Absinto, esse licor que não embebeda mas alucina, a ouvir o Joaquim Castro Caldas a recitar as Velhas, do João Habitualmente, os contos do Gin Tónico, Rui Belo e por aí fora.
No dia em que a Natália Correia morreu acabamos a noite em cima de um mercedes branco a recitar os seus poemas...
Naqueles tempos todos os sonhos eram possíveis e todos os actos necessários.
Era por lá que parávamos às segundas-feiras à noite, apresentados aos demónios verdes do Absinto, esse licor que não embebeda mas alucina, a ouvir o Joaquim Castro Caldas a recitar as Velhas, do João Habitualmente, os contos do Gin Tónico, Rui Belo e por aí fora.
No dia em que a Natália Correia morreu acabamos a noite em cima de um mercedes branco a recitar os seus poemas...
Naqueles tempos todos os sonhos eram possíveis e todos os actos necessários.
Laranja Mecânica
Acabei de rever este filme e fiquei mais uma vez arrebatado e sem adjectivos para o classificar.
Este é um daqueles casos em que tanto o livro de Anthony Burgess como o filme do Kubrick são geniais.
Como diz um amigo meu: "Este filho da puta apenas se limitou a fazer uma obra-prima em todos os géneros do cinema"
Este é um daqueles casos em que tanto o livro de Anthony Burgess como o filme do Kubrick são geniais.
Como diz um amigo meu: "Este filho da puta apenas se limitou a fazer uma obra-prima em todos os géneros do cinema"
Quem há-de abrir a porta ao gato
Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?
Sempre que pode
foge prá rua
cheira o passeio
e volta para trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva
desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.
Quando abro a porta corre para mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.
Repito a festa,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas,
e rosna,
rosna, deliquescente,
abraça-me e adormece.
Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?
António Gedeão
quando eu morrer?
Sempre que pode
foge prá rua
cheira o passeio
e volta para trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva
desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.
Quando abro a porta corre para mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.
Repito a festa,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas,
e rosna,
rosna, deliquescente,
abraça-me e adormece.
Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?
António Gedeão
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