sábado, maio 28, 2005

quarta-feira, maio 25, 2005

O Velho e o Rio

O meu velho não é do mar,
é do rio.

A amostra em vez do arpão,
Os gralheiros às correntes,
A cardiela é a ondulação.
As focas transformam-se em lontras.
Não há navios no calhau
e o blue marlin é uma peixe arco-íris.

O meu velho não é do mar,
é do rio.
Confunde-se com as suas margens,
Furtivo.Imagino-o puto reguila,
a ouvir os truques segredados pelos velhos transgressores,
Que à noite armavam cordas
e deixavam redes a ameijoar.

O meu velho inventa nomes mágicos para as coisas,
O Corgo da Água Fria,
O Poço das Pingas,
A Volta da Cerdeira,
O Bogão.
E recorda as proezas que aconteceram nesses lugares,
Ali, no outro dia escapou-me uma de Quilo.
Acolá sem sair do sítio tirei seis, todas com a medida.
É o único pescador não mentiroso que conheço.


De todas as vezes, repete os mesmos conselhos,
e eu ouço-os sempre com o mesmo encantamento da primeira vez.
Lança para ali que tiras uma truta.
e tirei.
O meu velho ria.


quarta-feira, maio 18, 2005

Masturbação no curriculum

Fim do mundo!

Expresso - 14 Mai 05
"Educação sexual polémica
Alguns manuais escolares, elaborados em consonância com as novas orientações dos Ministérios da Educação e da Saúde, propõem aos professores exercícios para crianças de 10 e 11 anos tais como colorir «partes do corpo que gostam que sejam tocadas».
Outra sugestão é pedir aos alunos que indiquem «manifestações sexuais», dando como exemplos a «manipulação dos órgãos genitais, beijos entre namorados e relação sexual». Estes manuais estão a provocar acesa polémica entre os educadores.
Educação Sexual Programas sem controlo

Um teatro sugerido para o 2.º e 3.º ciclos: 5 alunos «fazem» uma viagem de avião e chegam a uma terra onde a maioria da população é homossexual. Improvisam-se diálogos entre viajantes e população e o debate deve ser orientado para questões como: um comportamento é saudável ou normal porque é maioritário? Outro exercício, para o 1.º ciclo, é falar sobre os diversos tipos de família a partir deste desenho
EM EXERCÍCIO de 50 minutos, destinado a turmas do 5.º e do 6.º ano, propõe que, durante a aula, os professores ponham os alunos de 10 a 12 anos a pensarem no maior número possível de sinónimos para palavras como testículos, pénis, vagina ou relação sexual. De acordo com os manuais para os professores é «normal e aceitável utilizar expressões consideradas menos adequadas» e que podem mesmo «causar embaraço ou tornar-se desagradáveis». No final, e esgotadas todas as hipóteses, os estudantes devem afixar num «placard» o resultado deste trabalho.
Este é um dos exemplos das tarefas propostas para o ensino de Educação Sexual, uma matéria transversal, isto é, que pode ser dada por qualquer professor e em qualquer disciplina entre o 1.º e os 12.º anos de escolaridade. Em Outubro de 2000, os Ministérios da Educação e da Saúde produziram umas «linhas orientadoras da Educação Sexual em Meio Escolar» que passaram a estar em vigor. Foram feitos manuais e sugeridos textos para ajudar os professores, mas nunca foi feita qualquer avaliação. Neste momento, ninguém sabe como foi dada, por quem e a quantos alunos chegou esta informação. Muito menos se apurou a eficácia deste tipo de conteúdos.
«Ridículo».

Esta ficha, integrada num livro espanhol sugerido pelo Ministério da Educação, pretende introduzir nas salas de aula do 1.º ciclo a questão da masturbação. O professor deve perguntar: o que está o rapaz a tocar (o mesmo para a rapariga)? Já fizeste isso? Onde o fazes? Com quem o fazes?
Para Manuela Calheiros, psicóloga e professora universitária, «o exercício proposto é ridículo». Mas esse não é o maior problema deste projecto educativo. Com efeito, por não ser «testado, por não ser feita formação de professores e avaliados os resultados», há aqui «uma falha gravíssima», tanto mais que ninguém sabe «quem é responsável» pelas eventuais falhas cometidas. Manuela Calheiros vai mais longe: «não há contexto emocional» em todos os conteúdos programáticos sobre sexualidade, tal como ausentes estão «as famílias, o próprio envolvimento cultural e, mais grave, a possibilidade de qualquer pessoa dizer ‘não’». Para a psicóloga, mais importante do que enumerar e enunciar os actos sexuais - sejam eles quais forem - «é formar os alunos para sentimentos positivos e negativos» e, nesse processo, «aprender a conhecer-se e reconhecer que pode recusar situações ou atitudes que não aceite».
Outra proposta de trabalho apresentada nos manuais de apoio aos professores, tendo como destinatários crianças de 10 e 11 anos, consiste em pôr os alunos a colorir uma figura (masculina ou feminina), para depois assinalarem «as partes do corpo que elas gostam, ou não, que sejam tocadas. Estes desenhos podem ser recolhidos de forma a constituírem informação para o professor». Outra sugestão passa por pedir aos alunos que façam «uma lista com todas as manifestações sexuais que venham à ideia, colocando à frente de cada um o tipo de sensações presentes». Como exemplos sugeridos aos professores são elencados: «manipulação dos órgãos genitais, beijos entre namorados, relação sexual».
Pais fora de jogo?..."


http://www.forumdafamilia.com/peticao/peticao.asp

quarta-feira, maio 11, 2005

O tempo perdido: A ouvir passar os comboios

A primeira vez que senti um rebentamento pensei que o meu coração ía explodir naquele instante. A actividade no Bunker decorria com a mecânica normalidade de um formigueiro. Alguns escriturários sentados em frente aos respectivos monitores, ligados umbilicalmente aos teclados, outros caminhando apressadamente pelos corredores segurando um monte de papeis na mão, onde seguramente se traçaria o futuro da guerra e da humanidade.
A bomba anuncia a sua chegada com um silvo, primeiro distante, depois na vertigem de um instante tudo paralisa com o estrondo da explosão. O edifício contorce-se até às fundações, as entranhas da terra rugem, o coração dispara durante os cinco segundos em que demoramos a perceber que afinal não estamos mortos. O nó no estômago desfaz-se e um suor gelado escorre pela fronte apavorada do nosso rosto.
Os meus companheiros de abrigo, talvez pela já longa duração da guerra, permanecem imperturbáveis a estas mortes anunciadas. Parecem ter entrado num estado de torpor mecânico, fazendo lembrar um velho motor de barco pesqueiro.
Apesar de inicialmente me ter parecido incompreensível como era possível que aquelas pessoas permanecessem impassíveis face à proximidade do seu fim, acabei por incorporar o mesmo estado letárgico e alienado. A rotina tritura até a tragédia dos acontecimentos mais catastróficas. O que é banal e previsível rapidamente se torna familiar, normal, mesmo que a norma seja o Inferno na Terra. A guerra tornou-se previsível, ao ponto de conseguir planificar ao minuto os rebentamentos dos obuses.

A primeira bomba caía pontualmente por volta das 8h47. Era um rebentamento longo, mas distante. Seguramente atacavam outro dos nossos postos avançados.
O período entre as 11h e as 12h30 era onde se concentravam mais ataques, havia explosões consecutivas, não sendo possível comunicar com ninguém durante largos minutos, a não ser aos gritos. Por volta das 18h23 acontecia a maior explosão e certamente a mais bem direccionada. Todo o edifício estremecia com a força do impacto, prolongando-se por um tempo que pareciam horas.
Por vezes verificavam-se ligeiros atrasos. Esses eram os piores momentos. As previsões falhavam, deixavamos de ter o controlo dos acontecimentos.Qualquer instante poderia ser o último, mas com o arrastar dos meses, até os atrasos se tornaram pontuais.Viviamos o futuro a cada instante.Era proibido fumar.

terça-feira, maio 10, 2005