quarta-feira, maio 25, 2005

O Velho e o Rio

O meu velho não é do mar,
é do rio.

A amostra em vez do arpão,
Os gralheiros às correntes,
A cardiela é a ondulação.
As focas transformam-se em lontras.
Não há navios no calhau
e o blue marlin é uma peixe arco-íris.

O meu velho não é do mar,
é do rio.
Confunde-se com as suas margens,
Furtivo.Imagino-o puto reguila,
a ouvir os truques segredados pelos velhos transgressores,
Que à noite armavam cordas
e deixavam redes a ameijoar.

O meu velho inventa nomes mágicos para as coisas,
O Corgo da Água Fria,
O Poço das Pingas,
A Volta da Cerdeira,
O Bogão.
E recorda as proezas que aconteceram nesses lugares,
Ali, no outro dia escapou-me uma de Quilo.
Acolá sem sair do sítio tirei seis, todas com a medida.
É o único pescador não mentiroso que conheço.


De todas as vezes, repete os mesmos conselhos,
e eu ouço-os sempre com o mesmo encantamento da primeira vez.
Lança para ali que tiras uma truta.
e tirei.
O meu velho ria.


1 comentário:

Anónimo disse...

Boa malha!