segunda-feira, março 05, 2007

Deolinda

A Deolinda para mim era a Linda.
Recordo as suas mãos grossas retorcidas pelo trabalho, desproporcionadas naquele corpo franzino e corcunda, que pegavam em mim com tanta firmeza.
Amarrava com baraços as portas dos armários das panelas e sorria docemente com uma paciência infinita.
Levava-me com ela sempre que ía lavar a roupa perto do moinho do cubo.
Há trinta anos já era velha, sempre a conheci velha, mas com uma força inesgotável.
Agora com 93 o tempo já lhe tirou a genica. Os seus olhos afundados nas rugas marejaram de lágrimas mal me viu e não mais me largou a mão até nos separamos.

2 comentários:

Anónimo disse...

www.myspace.com/deolindalisboa

Anónimo disse...

Eu também conheci a Deolinda...mas os afazeres da vida, impediram-me de me lembrar dela ...até agora.
E estou a vê-la, agora, com um sorriso, educação e aflição constantes. De servir bem e de bem servir, não apenas os senhores "ourives", mas também toda a familia, e vizinhos, e amigos e desconhecidos.
Nem sabia que ainda era viva.
E agora sou eu que tenho os olhos fundos em lágrimas...