sábado, outubro 28, 2006

Fobia de aviões

Há muitas pessoas que tem pânico de aviões e a simples ideia de uma hipotética viagem utilizando este meio de transporte as deixa angustiadas, com as mãos suadas ou mesmo com uma vontade incontrolável de trocar umas férias paradisíacas nas Maldivas por um estimulante passeio pela marginal de Matosinhos.
Eu próprio já passei por várias fases nesta complexa relação que mantemos com os pássaros de aço, a saber: pânico, muito pânico, demência, consumo compulsivo de psico-trópicos, algum pânico, indiferença, pânico, vontade súbita de aderir a uma seita obscura, suores frios, racionalização, pânico, e por aí fora...
Ainda assim, nunca conheci ninguém que somatizasse tanto esta fobia como uma amiga minha, companheira de viagens. A coisa começa normalmente à saída de casa para o aeroporto, normalmente com a mãe presente, recomendando a compra de 5 caixas adicionais de Serenal, não vá o diabo tecê-las. Por essa altura a minha amiga já se encontra completamente drunfada depois de ter ingerido uma dose do dito ansiolíptico suficiente para colocar um elefante a dormir durante uma semana. A minha amiga está invariavelmente com um mau pressentimento de que algo vai correr mal, do tipo "os quatro motores do avião vão explodir em simultâneo". Chegados ao aeroporto, a espera parece infindável, com a minha amiga a sugerir de cinco em cinco minutos que deveríamos entrar para o avião o mais depressa possível de maneira a ela poder adormecer antes da descolagem, isto quando faltam ainda duas horas e meia para o embarque. Após trinta minutos desta insistência a decisão passa por ingerir uma dose de reforço do estupefaciente, dado que a dose anterior já não está a fazer efeito (ainda que nessa altura tenha apenas dois neurónios a funcionar). Como resultado da segunda toma acaba por adormecer na sala de espera com a cabeça encostada a uma velhinha, e a babar pelo canto da boca. Com a aproximação da hora fatal, eis que acorda e começa a fumar cigarros até à incoerência. É claro que a proibição de fumar nestes locais lhe é completamente indiferente, ao ponto da menina da TAP, no momento de validar o bilhete, tenha alguma dificuldade em vislumbrar a fotografia do passaporte no meio da fumarada. Já na pista, na fila para subir as escadas para o avião, os cigarros sucedem-se uns atrás dos outros, até que um comissário de bordo se apercebe da situação e se dirige a nós em pânico, dizendo: "A senhora não pode fumar aqui! É extremamente perigoso". A minha amiga, agora já só com um neurónio acordado, decide obedecer ao comissário zeloso e prepara-se para atira o cigarro para o meio de uma poça de combustível. O homem já descabelado atira-se ao seu braço, vociferando: "Não faça isso!!!". Após chegarmos aos nossos lugares, adormece acordando esporadicamente durante o voo a chamar pela cadela, ou a perguntar "O que é que que aconteceu?" ou "Já chegamos?", ao que eu respondo "Sim, já chegamos, estamos no autocarro para nos levar ao Hotel"...

3 comentários:

LA disse...

Muito bom, se te dedicasses a coisa ainda acabas com os editores a acenar com umas notas.

Anónimo disse...

A parte engraçada do processo, é que o único neurónio desperto é o neurónio da obediência cega, pelo que é muito fácil pôr a dita a roubar lollypops e perfumes nas lojas de conveniência dos aeroportos....uuhh que mauzinhos...

...SUPA...

Anónimo disse...

é um prazer ter-te de volta à pena...

...SUPA...